Museu de Aveiro/Santa Joana – o ex libris cultural da cidade

Fomos conhecer o Museu de Aveiro instalado no antigo Convento de Jesus da Ordem Dominicana feminina, cujo edifício remonta ao século XV. A Princesa D. Joana, filha do Rei D. Afonso V de Portugal, passou aqui os últimos anos da sua vida sempre apoiando causas humanitárias. Depois da sua beatificação em 1693, o prestígio do convento ficou associado à presença da Princesa Santa Joana, que em 1965 foi declarada Padroeira de Aveiro por Sua Santidade o Papa Paulo VI.

MO2 — Edifício do Convento de Jesus e Museu de Aveiro

Entrámos sem grandes expectativas e saímos deslumbradas! O museu aqui instalado desde 1911, é verdadeiramente maravilhoso e recomendamos que o visitem sem pressa: nós nem tínhamos vontade de sair de lá! Aqui está reunido um riquíssimo património com vários séculos de História.

ENT — Berlinda do século XVIII no hall de entrada do museu e algumas peças de porcelana portuguesa

BATISMO — Roupas usadas no sacramento do baptismo “Deixa que a graça do teu baptismo frutifique num caminho de santidade”, afirmou o Papa Francisco

Porque é que este museu é um ponto obrigatório quando passar por Aveiro? Aqui está exposta uma das mais valiosas colecções de arte sacra, mobiliário, ourivesaria, pinturas e esculturas dos séculos XIV a XX, existentes em Portugal. Há vários espaços para descobrir durante o circuito de visita: o percurso monumental e a exposição permanente.

RET — Pintura da Princesa Santa Joana, obra do século XV de artista desconhecido

No piso térreo, ganha destaque imediato o sumptuoso túmulo de Santa Joana, idealizado pelo arquitecto da corte João Antunes em estilo barroco com mármores embutidos, cuja construção demorou 11 anos.

Aquando da sua morte, a Princesa Joana foi sepultada em campa rasa a seu pedido. Quando foi beatificada, as freiras pediram a D. Pedro II que atribuísse a Santa Joana um túmulo que dignificasse essa classificação e o Rei atendeu o pedido. Ao fundo desta sala, as grades e os confessionários laterais demarcavam o limite da zona de clausura.

LIMITE — As grades definiam a área de clausura

A passagem faz-se depois pela Capela de Santo Agostinho, o autor da Regra que rege a Ordem Dominicana. Aqui se encontra sepultado, a seu pedido, o 7º Duque de Aveiro D. Gabriel de Lencastre, falecido em 1745 e que era sobrinho de Santa Joana.

20190828_115043 (2) — Passagem entre a Capela de Santo Agostinho e a Igreja de Jesus

O caminho leva-nos para a Igreja de Jesus e… paramos estupefactas com tanta riqueza!!! A decoração em talha dourada absorve a nossa atenção. Os painéis de azulejo e as pinturas ilustram momentos da vida de Santa Joana. Um exemplo de exuberância no que diz respeito à decoração barroca.

LINDO — Aqui tudo é em talha dourada, azulejos e pinturas de uma beleza indescritível

PARED — Tesouros desde o chão até ao tecto

Saímos para o claustro dos séculos XV e XVI que era o espaço onde se realizavam procissões e onde se enterravam as dominicanas. Por aqui tem-se acesso ao refeitório, sala do lavabo, coro baixo e capelas. O chafariz e obelisco que se encontram no centro, datam do século XVII e estão rodeados de bancos e painéis de azulejos.

20190828_115623 (2) — O refeitório revestido com azulejos do século XVII. Ainda ali está o sino que chamava as freiras na hora das refeições

LAVA — Sala do lavabo onde as freiras lavavam as mãos antes das refeições

JOAO — Capela de São João Evangelista, revestida com azulejos do século XVII

VELHO — Sala do Capítulo Velho onde as freiras se reuniam para decidir assuntos importantes. Neste chão estão sepultadas as fundadoras do convento

Prosseguindo a visita entramos no coro alto, local onde as freiras faziam as orações sem se misturarem com os outros fiéis. Na parede destaca-se o enorme crucifixo gótico, diante do qual a Princesa fez os seus votos secretos. O órgão ibérico de 1784 que aqui se encontra, está classificado como Tesouro Nacional.

CRISTO — Crucifixo diante do qual a Princesa fez os seus votos

VISTA — Aspecto da Igreja de Jesus vista a partir do Coro Alto

A Sala de Lavor está preenchida com pinturas que contam o percurso de vida da Princesa Joana até à realização do seu cortejo fúnebre. Este era um espaço de lazer onde as freiras faziam os seus bordados. Quando a Princesa adoeceu, foi aqui colocada a sua cama e foi aqui que passou os seus últimos dias. Em 1734 o espaço passou a ser uma capela e o crucifixo que está no altar pertenceu à Princesa Joana que o segurava quando deu o último suspiro.

20190828_120743 (2) — Entrada para a Sala de Lavor

ALTA — Por cima do altar está a cena da morte de Santa Joana

Na exposição permanente os quadros, móveis, esculturas e objectos de arte sacra que se podem apreciar em diversas salas, retratam os estilos arquitectónicos que se seguiram e conferem uma justa homenagem aos artistas que os elaboraram.

MUMIA — Túmulo de João de Albuquerque, um famoso fidalgo e guerreiro do século XV com actos de valentia comprovados, que doou as suas terras ao reino para que pudesse ser sepultado neste mosteiro junto com a sua esposa.

ROSARIO — Capela de Nossa Senhora do Rosário com um conjunto de esculturas em madeira do século XVIII

“Lamentação de Cristo” de autor desconhecido

Barca de Nossa Senhora da Boa Morte que era usada em procissões no interior do convento, já que as regras de clausura impediam as religiosas de sair para o exterior

Esta impressionante visita deixou-nos culturalmente mais ricas. É, sem dúvida, um local a ter em conta quando visitar Aveiro. O Mosteiro/Museu situa-se na Avenida Santa Joana, junto à Sé Catedral, e está aberto de terça-feira a domingo das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18 horas. O bilhete custa 5€/passe para todos os museus da cidade ou 4€ se apenas quiser visitar este museu. A entrada é gratuita para crianças até aos 12 anos.