Quem não gosta de dar um passeio num espaço verde, bonito e cuidado? E se, para além desses predicados, esse espaço nos contar uma história? Pois é isso mesmo que vamos fazer agora. Estamos na Quinta das Lágrimas em Coimbra e vamos contar-lhes a mais bonita história de amor da História de Portugal. Foi aqui que tudo aconteceu… mas primeiro deixem que vos fale um pouco sobre esta bela propriedade situada no seguimento da localização do “Portugal dos Pequenitos”.



Foi nos primeiros anos do século XIV que a então denominada Quinta do Pombal passou a ser limite de caça da Família Real Portuguesa. Um palácio no meio da quinta dava apoio a essa actividade lúdica, muito popular na época. O bosque, repleto de espécies botânicas, algumas trazidas posteriormente de outras paragens pelos descobridores portugueses, é um sem fim de cantos e recantos que as senhoras da corte e as suas aias muito bem conheciam dos seus passeios e namoricos fortuitos…


Por essa altura a Rainha Santa Isabel manda aqui fazer um canal que levasse a água das duas nascentes próximas para o Convento de Santa Clara. Mais tarde veio a saber-se que este canal serviu para levar as cartas que D. Pedro e D. Inês trocavam entre si e o sítio de onde sai a água é agora chamado de “Fonte dos Amores”.



Ao longo dos séculos, a quinta sofreu algumas transformações: foi construído um grande tanque para receber a água da “Fonte das Lágrimas”, assim designada por ter sido aqui que D. Inês foi assassinada. Assim se alimentavam as mós de um lagar de azeite ali existente.

No início do século XVIII a quinta foi adquirida pela família que lhe veio a dar o nome actual e mandou restaurar o palácio existente para aí fixar residência. Em 1813 o Visconde de Wellington foi hóspede na Quinta das Lágrimas e, como forma de agradecimento, plantou duas sequóias perto da Fonte dos Amores e mandou erguer, junto à Fonte das Lágrimas, uma lápide com a estrofe de “Os Lusíadas” que faz referência à história de Pedro e Inês. Posteriormente foram acrescentadas espécies exóticas de várias proveniências do mundo, que deram lugar a um frondoso jardim romântico com vários lagos.



Em 1879 um violento incêndio destruiu o palácio original. Foi reconstruido ao estilo dos solares portugueses e dá agora vida ao Hotel Quinta das Lágrimas, uma unidade hoteleira de luxo inaugurada em 1995 e considerada um dos melhores alojamentos do país.




Em 2006 todo este espaço foi alvo de grandes obras de restauro que deram lugar à criação de um jardim medieval, uma alameda de sequóias e o anfiteatro “Colina de Camões” ao qual foi atribuído o Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista em 2008 e onde se realizam espectáculos musicais, durante o Verão.


Mas… e a história de amor de Pedro e Inês, não vais contar? Claro que sim, aliás, o nome da Quinta das Lágrimas foi inspirado no que vão ler a seguir!…

D. Pedro, filho de D. Afonso IV Rei de Portugal, era casado com D. Constança que não dispensava a presença da sua aia de descendência castelhana, Inês de Castro. Quis o destino que Pedro e Inês se apaixonassem, mas quando o relacionamento foi descoberto gerou grandes constrangimentos tanto no seio da corte como a nível político. Para tentar resolver a situação, o Rei mandou exilar Inês de Castro num castelo na fronteira castelhana.

Algum tempo depois, D. Constança morre durante o parto. Pedro, vendo-se viúvo, foi buscar Inês e foi viver com ela para o palácio da Quinta das Lágrimas, atitude que provocou um grande escândalo na corte. Alheios aos ditos e mexericos, Pedro e Inês tiveram 4 filhos, mas a situação política era cada vez mais grave e o desagrado do povo era evidente.

Depois de várias tentativas do Rei em arranjar outro casamento para o filho, tendo este sempre recusado, surge a ideia de mandar executar Inês. O assassinato foi consumado, aproveitando a ausência de D. Pedro numa viagem de caça. Mas esperem… esta história não acaba aqui!!!…

Dizem que todos nascemos com o destino traçado e o do Rei não foi diferente. Pouco tempo depois de ordenar esta barbaridade, a morte bateu à porta de D. Afonso IV e o filho sucedeu-lhe, como D. Pedro I Rei de Portugal. Assim que foi coroado iniciou uma caçada, bem-sucedida, aos assassinos de Inês e fez uma última homenagem ao seu grande amor: ordenou que o seu corpo fosse desenterrado e vestido com os trajes reais.

Em seguida coroou-a rainha, mesmo depois de morta, e fez com que os membros da corte lhe beijassem a mão, provando a todos que o seu amor por Inês era puro e verdadeiro e iria perdurar no tempo, contra tudo e contra todos. Depois mandou construir um magnífico túmulo no Mosteiro de Alcobaça. Os túmulos dos dois amantes estão agora um em frente ao outro para que, como diz a lenda, “possam olhar-se nos olhos quando despertarem, no dia do Juízo Final”.


O jardim pode ser visitado de terça-feira a domingo a partir das 10h. No Inverno encerra às 17h e no Verão às 19h. O ingresso tem o custo de 2,50€/adultos e 1€/ séniores e menores de 15 anos.



Lenda e verdade confundem-se aqui. Experimente contrariar o fatalismo desta história e, quem sabe, este local pode vir a ser o palco da sua feliz, memorável e arrebatadora história de amor…




♥ Boa viagem ♥