Nas muitas escapadinhas que já fizemos em Portugal, o interior alentejano não tem sido muito privilegiado. Por isso, quando entrámos de férias, resolvemos preencher essa lacuna indo passar três dias na região do Alto Alentejo.

O destino final seria a vila de Alter do Chão, no distrito de Portalegre, onde ficámos alojadas duas noites, apreciando as paisagens e visitando as localidades ao longo do percurso.

A reserva foi feita para o início do mês de Agosto e já sabíamos que íamos ter temperaturas do ar muito elevadas. Só não sabíamos que íamos apanhar a maior vaga de calor que já tinha assolado o país. Por isso, não deixe de ler as nossas dicas no fim do artigo de forma a conseguir fazer a viagem com temperaturas do ar acima dos 42 graus centígrados.

Dia 1
Saímos de Lisboa bem cedo, por volta das 07.00 horas, para fugir ao habitual calor alentejano. Na bagagem, muita água e um farto piquenique para a viagem.

Existem vários percursos, mas optámos por apanhar a A2 desviando para a A6 (saída 7) em direção a Espanha. Saímos então da autoestrada apanhando a Nacional 4 em direção a Arraiolos (saída 4) e fizemos a primeira paragem do dia num desvio da estrada junto ao restaurante “O Parque”. O espaço tem parque de estacionamento, mesas para piqueniques e, apesar do restaurante estar fechado, por ser dia de descanso, existia uma máquina automática de café a funcionar e os WC de apoio estavam abertos e limpos. Uma boa referência para quem circula nesta estrada.

Depois do pequeno-almoço partimos em direção a Arraiolos virando para a Nacional 251, mas antes de chegarmos à vila vale a pena parar na berma da estrada para apreciar a Fonte da Pedra datada do século XIX.



Seguimos então para o Castelo de Arraiolos onde começámos a visita a esta linda vila alentejana.

O castelo e a muralha foram construídos na mesma época e datam do início do século XIV.

A marcar o centro do espaço amuralhado ergue-se, num monte, a igreja do Salvador.


Foi um bom começo. A vista das ameias é linda, sendo possível ver os povoados e a planície alentejana até perder de vista.

Descemos para o centro da vila, onde estacionámos facilmente na Praça da República, junto ao jardim, e iniciámos um passeio a pé.

No caminho fomos apreciando a arquitetura, os monumentos, os espaços e, claro, fomos ver os famosos tapetes de Arraiolos, imagem de marca da vila.


Especial destaque para a maravilhosa Igreja da Misericórdia situada no centro histórico da vila, cujo interior está revestido com painéis de azulejos do séc. XVIII.


A visita superou as nossas expetativas e ficámos na vila mais tempo do que esperávamos.

Saímos de Arraiolos pela N370 e rapidamente chegámos a Pavia. Não estava no roteiro inicial, mas como estava em caminho, resolvemos fazer uma breve visita. Afinal estávamos a passear e sem horários a cumprir.

Estacionámos o carro junto ao miradouro e fomos a pé até ao centro da pequena vila.

Passámos na Igreja Matriz que estava fechada e seguimos para o largo da vila admirando as típicas ruas.

No centro do largo um telheiro e um chafariz dão muito jeito para descansar à sombra e para reabastecer as reservas de água.

Em lados opostos erguem-se a Ermida de São Sebastião ou de São Francisco e a Anta de Pavia transformada na Capela de D. Dinis.


Continuando o caminho pela N370 chegámos a Avis. A manhã já ia avançada e resolvemos almoçar por aqui. Ainda bem que levámos piquenique porque durante a nossa visita não vimos nenhum restaurante dentro da vila. Após o almoço, fomos visitar o Centro Histórico começando pela Igreja Matriz dedicada à Nossa senhora da Orada.

A Igreja situa-se no alto do monte que acolhe a vila e as suas torres sineiras destacam-se entre o casario.

Depois uma pequena descida até ao Largo do Convento, admirando a típica arquitetura que embeleza as ruelas.

O Largo do Convento é um espaço amplo rodeado por históricos edifícios e pelas muralhas do antigo castelo ligadas por três das seis torres originais.

De destacar a igreja e antigo convento da Ordem Militar de S. Bento de Avis e o edifício dos Paços do Concelho. Ao lado o edifício que alberga a Câmara Municipal e que tem ao dispor dos visitantes WC público.

Umas escadas permitem subir às antigas muralhas e à torre da Rainha de onde se obtém uma vista panorâmica sobre a planície alentejana com a albufeira da barragem do Maranhão e parte da vila.


Seguindo viagem vale a pena parar um pouco e desfrutar da calma das águas da albufeira.

A meio da tarde chegámos ao nosso destino, Alter do Chão. Talvez por estar muito calor, a vila estava quase deserta.

O castelo, datado do século XIV, domina o centro da vila e está denominado como Monumento Nacional.

Bem perto encontramos a Igreja Matriz, os jardins, o Mercado Municipal e o Chafariz da Barreira. A vila é pequena e facilmente se visita a pé.

Alter do Chão é sobretudo conhecida pela sua Coudelaria, fundada para a criação do cavalo Lusitano, cuja raça “Alter Real” é homenageada através de uma estátua equestre erguida numa das entradas da vila.

Ficámos alojadas no hotel Varandas de Alter Hotel e Spa. Foi um acolhimento simpático, com decoração tipicamente alentejana, mas não espere luxos e de Spa só tem o nome. Se vai à espera de fazer uma massagem, esqueça. O mais provável é não ser possível. Aproveite para tomar uns banhos na piscina e apanhar um pouco de sol.

Recomendamos o restaurante, que está aberto ao público em geral, e que tem uma excelente cozinha com pratos e doces típicos alentejanos e uma carta com bons vinhos da região.


Dia 2
Depois de um delicioso pequeno-almoço repleto de iguarias locais, partimos para a Coudelaria de Alter localizada na Tapada do Arneiro, a pouco mais de 3 quilómetros de Alter do Chão. Trazíamos muitas expectativas para esta visita e não saímos defraudadas.

As visitas são guiadas e os bilhetes entre os 13 e os 65 anos custam 7.50€. Existem descontos para as restantes idades e famílias e as crianças até aos 2 anos não pagam.

A Coudelaria foi fundada em 1748 pelo rei D. João V e tem como missão a criação e valorização do cavalo Lusitano Alter Real.

A visita inicia-se no Centro de Recepção e Interpretação que alberga uma exposição sobre as actividades e valências da “Coudelaria de Alter e do cavalo Alter Real”.

Seguimos depois para as cavalariças que alojam dezenas de cavalos lusitanos. Dóceis e bem cuidados estão habituados a interagir com os visitantes proporcionando-nos os melhores momentos da visita.


Durante o percurso ainda visitamos o picadeiro, a Casa dos Trens, a Galeria de Exposições, a loja da Coudelaria e muitos outros espaços.


Depois, é passear livremente pelos espaços exteriores onde podemos apreciar o casario típico que incluí o edifício da Casa de Campo que em breve será transformada em hotel.


Depois de um excelente almoço no restaurante do hotel Varandas de Alter Hotel e Spa, onde degustámos verdadeira comida alentejana, passámos o resto da tarde a descansar e a desfrutar da piscina para fugir do tórrido calor que se fazia sentir.


Dia 3
Partimos de manhã, em direção a Ponte de Sor. Tomámos a estrada N369 e fizemos o desvio para visitar a Ponte Romana de Vila Formosa, inserida no percurso “Olhar sobre a Ribeira de Seda”.

A ponte foi construída sobre a ribeira de Seda, em finais do séc. I / inícios do séc. II d.C., na via que ligava Lisboa a Mérida com passagem em Alter do Chão. É considerada o mais importante monumento do género em Portugal e foi classificada como Monumento Nacional em Junho de 1910.

Está desativada para o trânsito automóvel, desde a construção de um viaduto ao lado, cujo projecto incluiu a recuperação da ponte romana.

Nas margens da ribeira foi construído um pequeno parque de merendas, com parque de estacionamento, para que se possa usufruir da tranquilidade do local.

Voltando à estrada seguimos pela N119 até Ponte de Sor. Assim que entrámos na cidade, ao passar a ponte que substituiu a antiga ponte romana, ficámos logo fascinadas com a paisagem sobre a ribeira de Sor e seus jardins.

Vale bem a pena passar algum tempo a passear pelas margens da ribeira desfrutando da calma que o lugar oferece.


No centro da cidade destaca-se o pequeno jardim do Campo da Restauração e mais à frente, no Largo Marquês de Pombal, a Igreja Matriz.


Continuámos o nosso percurso pela N2 em direção à barragem de Montargil, onde almoçámos num restaurante de estrada, não sem antes visitarmos os bonitos jardins do Hotel do Lago, onde já tínhamos ficado alojadas numa escapadinha de fim-de-semana.

Apesar de já conhecermos a zona, a beleza da paisagem sobre a albufeira da barragem surpreende-nos sempre.

Uns quilómetros mais à frente aparece o desvio para o Fluviário de Mora, um aquário dedicado aos ecossistemas de água doce.

O espaço foi inaugurado em Março de 2017 e tem como objectivo a sensibilização do público para a necessidade de cuidar desses ecossistemas.


A exposição é formada por um conjunto de aquários e espaços terrestres que permitem observar, num percurso desde a nascente até à foz de um rio, as várias espécies animais e vegetais no seu habitat.


O dia já ia longo e seguimos para Lisboa sem mais paragens. Chegámos à agitação da cidade já com saudades das tranquilas planícies alentejanas, onde parece que o tempo anda mais devagar, dos cheiros, das comidas e das gentes. Voltaremos!

♥ Boa viagem ♥
As nossas dicas para quem fizer este percurso de automóvel
- Em qualquer altura do ano leve o depósito bem cheio de combustível. Não vai encontrar um posto de abastecimento em qualquer estrada ou localidade. Foram bem escassos os que vimos ao longo de grande parte do percurso.
- Leve um piquenique. Pode circular durante muitos quilómetros sem ver um café ou restaurante. Aproveite, também, os WC que encontrar.
- Se a intenção é comprar abastecimentos em supermercados, procure-os em vilas maiores porque as mais pequenas nem sempre têm.
- Se estiver muito calor, leve na bagageira uma boa geleira generosamente abastecida de gelo e água e que mantenha os alimentos frescos. Leve, também, uma geleira mais pequena no interior do carro para manter a água, a consumir no momento, sempre fresca.
- Coloque um chapéu de sol de praia na bagageira. Se tiver que parar numa estrada descampada, debaixo de um sol abrasador, quer seja para mudar um pneu, por necessidade de uma criança ou por qualquer outro motivo, a sombra vai saber bem.
- Não se esqueça de levar protetor solar e um chapéu para a cabeça.
- O Alentejo é tão quente quanto frio. Se for no Inverno leve agasalhos dentro do carro. Uma manta quentinha pode ser útil em qualquer momento.
- Se quiser fugir ao frio ou ao calor próprios do interior alentejano, procure viajar em alturas do ano com temperaturas mais amenas, mas não deixe de ir. O Alentejo é lindo!
- E por último, leve estas dicas em consideração, sobretudo se viajar com crianças.