Confesso que visitar a Câmara Municipal de Lisboa não estava na lista das nossas prioridades. Um dia fomos para a rua sem destino e acabámos à porta dos Paços do Concelho, designação atribuída aos edifícios da Administração Local. Até ao início do século XX, os Paços do Concelho compreendiam quase todos os serviços públicos tais como, o Tribunal, a cadeia, a repartição de Finanças, o Registo Civil para além, claro, da Câmara Municipal.

O edifício, junto do qual já tínhamos passado tantas vezes, é considerado um dos mais belos ao serviço da Administração Local Portuguesa! Foi construído entre 1864 e 1880 com base no projecto do Arquitecto Domingues Parente da Silva com a colaboração do Engenheiro Ressano Garcia que desenhou a fachada neoclássica da qual fazem parte esculturas representando a Liberdade, o Amor à Pátria, o Comércio, a Indústria, as Ciências e as Artes.

Em 1996 um incêndio destruiu os andares superiores, mas a sua reconstrução foi rápida e nessa altura aproveitou-se para introduzir alguma modernização em alguns espaços sem, no entanto, alterar a sua originalidade. Para além de ser local de trabalho do Presidente da Câmara e dos seus Vereadores, os seus espaços são ainda usados para cerimónias municipais e recepções de personalidades nacionais e internacionais de visita a Lisboa.




A entrada da Câmara Municipal é de uma beleza estonteante. A escadaria em mármore de cor marfim subdivide-se em dois lances de acesso ao patamar intermédio onde está uma laje comemorativa do primeiro aniversário da Implantação da República, cuja proclamação se deu na varanda do primeiro andar deste edifício no dia 5 de Outubro de 1910. A coroar a escadaria está a maravilhosa cúpula em estilo renascentista feita com uma artística pintura que resulta na perfeita ilusão de sombras e relevos.




A visita começa no piso térreo, na Sala do Arquivo onde estão reunidos o Arquivo Geral e o Arquivo Histórico. A sala tem uma galeria em ferro a toda a volta que suporta outro nível de armários, todos em madeira de carvalho. Os arcos da sala são sustentados por pilares de pedra.



No mesmo piso encontra-se a Sala das Sessões Públicas onde se realizam, na última quarta-feira de cada mês, reuniões abertas à presença dos munícipes. Nesta sala, para além do bonito tecto, evidenciam-se telas contemporâneas da autoria dos pintores Maria Velez e Sá Nogueira. Um busto da República completa a decoração.

A notável escadaria central leva-nos ao segundo andar. A Sala dos Brasões deve o seu nome aos brasões de municípios portugueses que ostenta no tecto. As paredes são decoradas com tecidos púrpura e medalhões emoldurados a ouro. Esta sala está atribuída ao Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.


Na Sala das Sessões Privadas, conforme o nome indica, realizam-se este tipo de reuniões. O maravilhoso tecto pintado do século XIX tem figuras de monarcas de países ligados a Portugal, assim como uma figura feminina representando a capital.


Seguimos para a Sala Lisboa que acolhe o gabinete de apoio ao Presidente da C.M.L. e onde saltam à vista dois quadros onde estão representados D. Carlos I (Rei de Portugal entre 1889 e 1908) e D. Manuel II que lhe sucedeu no trono, sendo deposto em 1910 aquando da Implantação da República. Contigua a esta, encontra-se a Sala do Chefe de Gabinete.


No Gabinete do Presidente, a riqueza da decoração salta à vista! O actual Presidente da Câmara, Dr. Fernando Medina, conta com móveis de raiz de nogueira e uma tapeçaria com o brasão da cidade. A iluminação é garantida por um belo lustre de cristal que pende do medalhão central do seu maravilhoso tecto.



O sumptuoso Salão Nobre é a sala de visitas da cidade. Por ser o espaço mais amplo do edifício, é aqui que se realizam as principais cerimónias. Foi desta varanda que, no histórico dia 5 de Outubro de 1910, foi proclamada a República.




O tecto do Salão Nobre exibe ao centro uma figura de mulher (a cidade) empunhando um escudo com as armas de Lisboa. Aos seus pés está um velho (o Rio Tejo) com o cântaro das águas. Um anjo ampara “a cidade” e o Livro dos Destinos exibe nas suas páginas o Conquistador de Lisboa e Primeiro Rei de Portugal D. Afonso Henriques e ainda o Marquês de Pombal que reconstruiu a cidade após o terramoto de 1755.

A decoração neoclássica deste espaço compreende medalhões nas paredes que retratam personalidades da vida portuguesa. Os retratos pintados a óleo exibem figuras da vida política e cultural do país como é o caso de Alexandre Herculano (escritor), Mouzinho da Silveira (político) ou José Estevão (jornalista). Não passam despercebidas as duas magníficas lareiras em mármore de Carrara.



Através da porta sul temos acesso à Sala Dourada ou Sala da República caracterizada por ter três retratos a óleo de figuras do Movimento Republicano: Manuel de Arriaga, Miguel Bombarda e Almirante Cândido dos Reis. Os apontamentos dourados do tecto, mobiliário e decoração ajudam à sua designação.

A Sala Rosa Araújo na porta norte foi assim baptizada em homenagem ao Presidente da Câmara que exerceu o cargo entre 1878 e 1886 e que foi o responsável pela construção da Avenida da Liberdade, ponto de partida para a expansão da cidade e onde fixaram residência as classes mais abastadas. Outros grandes retratos a óleo podem ser aqui observados assim como belos medalhões no tecto e na sanca. Bonitas esculturas também fazem parte da decoração. Este espaço é utilizado como extensão do Salão Nobre quando necessário.

A visita acaba aqui. Por muito tempo continuámos encantadas, deslumbradas mesmo, com tudo o que nos foi dado ver ali dentro. Os edifícios públicos da nossa cidade escondem uma fantástica riqueza arquitectónica, cultural e artística!

O edifício dos Paços do Concelho, na Praça do Município, pode ser visitado gratuitamente no 1º domingo de cada mês a partir das 11 horas. Ficaram com vontade de conhecer a Câmara Municipal de Lisboa?

♥ Boa viagem ♥
É só para dizer que devem corrigir o erro crasso de mencionar PASSOS DO CONCELHO quando se escreve corrcetamente “PAÇOS DO CONCELHO”
GostarGostar
Obrigada pelo reparo. Vamos corrigir o lapso
GostarGostar
Branca Neves, muito obrigada pelo reparo e pela atenção que dedicou ao nosso artigo. O erro já foi corrigido.
GostarGostar
Belo aperitivo para desafiar a uma degustação do prato principal : uma visita física!
Muito obrigada pela pormenorizada partilha
GostarGostar
Muito obrigada.
GostarGostar