A bela cidade de Florença é atravessada pelo rio Arno que a divide em duas. Ao longo dos séculos várias pontes foram construídas unindo com graciosidade as duas margens. Pontes cheias de história, tantas vezes derrubadas por catástrofes e sempre reerguidas por visionários e artistas que as transformaram em autênticos monumentos enriquecendo, sem dúvida, o património da cidade. Hoje, a sua beleza proporciona algumas das mais belas paisagens de Florença e convida os turistas a longos passeios pelas margens do rio.

O Arno é um rio da Itália central com cerca de 240 quilómetros de extensão. Nasce nos montes Apeninos, mais precisamente no monte Falterona, e desagua no mar Mediterrâneo. É também o causador das muitas cheias que assolaram Florença e que, a par com os bombardeamentos nazis, destruíram todas as pontes da cidade construídas até à data da Segunda Guerra Mundial.

A ponte Vecchio é a mais antiga e famosa ponte de Florença e remonta à época romana. Foi várias vezes destruída e reconstruída devido às cheias do rio Arno. A ponte definitiva foi construída em pedra em 1345, depois das cheias de 1333. Após essa data, conseguiu resistir às grandes cheias de 1966 e foi a única ponte da cidade que não foi destruída, em 1944, pelos bombardeamentos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Dizem que pode ter sido poupada por ordem de Hitler que a tinha visitado uns anos antes a convite de Mussolini.

Desde sempre a ponte foi um espaço destinado ao comércio. Começou por alojar açougueiros e mercadores que, por falta de espaço, foram acrescentando pequenas salas destacadas sobre o rio, suspensas por estacas, que adicionaram à ponte uma configuração única.

Não fosse o terraço panorâmico no centro pensaríamos que estávamos a passear numa qualquer rua de Florença. De manhã cedo é a melhor hora para visitar a ponte. Volte depois, já com as lojas abertas, para fazer umas comprinhas ou simplesmente apreciar as montras.

No final do século XVI, Ferdinando I de’ Medici determinou que as lojas deveriam ser ocupadas exclusivamente por ourives e joalheiros de forma a acabar com o mau cheiro dos açougues.

Em 1564 a ponte Vecchio ganhou uma nova imagem com a construção do Corredor de Vasari ou Corredor Vasariano. Foi desenhado e construído por Giorgio Vasari, em apenas seis meses, para permitir a deslocação, em segurança, de Cosimo I e seus convidados entre o Palácio Vecchio, a sede do poder, e o Palácio Pitti, a sua residência privada. O corredor passa, na margem norte do rio Arno, pela Galeria Uffizi, depois atravessa a ponte Vecchio prosseguindo, na margem sul, até ao palácio Pitti, passando pela igreja de Santa Felicita e terminando nos jardins de Boboli.

A Torre dei Mannelli é a única das quatros torres defensivas da ponte Vecchio que ainda existe. A família Mannelli recusou que a torre fosse destruída para passar o Corredor de Vasari e o arquiteto acabou por alterar o projeto contornando a torre, ficando aquela parte da obra sustentada por suportes em pedra.

Em 1938, Adolf Hitler faz uma visita oficial a Florença e Mussolini manda abrir três grandes janelas no Corredor Vasariano para que pudessem apreciar as paisagens sobre o rio Arno.

No terraço panorâmico podemos admirar, a oeste, a ponte de Santa Trinita e, a este, a ponte Alle Grazie. Raffaello Romanelli é o autor do busto que vemos no centro. A escultura, de 1901, é uma homenagem a Benvenuto Celini, escultor, escritor e o mais importante ourives de Florença do século XVI.

A ponte de Santa Trinita é considerada uma das mais belas pontes de Florença. A primeira construção, feita em madeira, data de meados do século XIII. Ao longo dos séculos sofreu vários colapsos e após as cheias de 1557 Cosimo I encomenda uma nova ponte a Amannati que ficaria concluída em 1570 seguindo um projeto de Michelangelo.

Em 1608, por ocasião do casamento de Cosimo II de’ Medici com Madalena de Áustria foram acrescentadas, nas extremidades da ponte, as quatro estátuas alusivas às estações do ano. A ponte foi novamente destruída durante a Segunda Guerra Mundial e reconstruída com as pedras e as estátuas originais que recuperaram do rio. A cabeça da “Primavera” foi a última peça a ser encontrada. Só foi colocada no seu lugar em 1961 depois de um grande restauro.


A ponte Alla Carraia data do século XIII e foi a segunda a ser construída em Florença. A ponte com cinco arcos foi reconstruída pela última vez em 1948 num projeto de Ettore Fagiuoli. Continuando para oeste, ainda encontramos as pontes de A. Vespucci, Alla Vittoria e all’Indiano, a mais nova de Florença.

Para o lado este da ponte Vecchio mais três pontes se avistam. A ponte Alle Grazie foi a terceira a ser construída em Florença. À data da construção, no século XIII, era a mais longa ponte da cidade. Resistiu a todas as cheias mas, tal como outras, em 1944 foi destruída pelas tropas nazis. O processo de reconstrução durou vários anos tendo sido reinaugurada em 1957.

Antes de chegar à ponte seguinte, um dique ajuda a tranquilizar as águas e permite a prática de desportos náuticos, como a canoagem.

Continuando para montante e conforme nos vamos afastando do centro histórico os edifícios vão dando lugar aos espaços verdes e o rio vai tomando o protagonismo.

Chegámos à ponte de São Nicolau que foi construída no século XIX num formato de ponte suspensa. Foi destruída pelas cheias de 1844 e pelas tropas nazis, em 1944. A última reconstrução foi após a Segunda Guerra Mundial num projeto completamente diferente do original.

Da ponte de São Nicolau já se avista, ao longe, a ponte de Giovanni da Verrazzano, inaugurada em 1970. Resolvemos não avançar e regressar ao centro pelo lado sul do rio.

À saída da ponte, ou não fosse esta a cidade da arte, um conjunto de esculturas mais contemporâneas embelezam o parque.

Pelo caminho, passamos na praça Giuseppe Poggi onde se destaca a Porta San Niccolò, também conhecida como a Torre de San Niccolò, construída em 1324, para defender o distrito de Oltrarno.

Seguindo ao longo do rio deparamos com paisagens maravilhosas. As águas não são azuis, é bem verdade, mas nem isso lhe retira a beleza e o encanto que confere à cidade.

Passear nas margens do rio Arno proporcionou-nos um dos momentos mais tranquilos das duas visitas que fizemos a Florença, mostrando-nos outra perspectiva da cidade.

Seja de manhã cedo ou ao pôr do sol deixe-se levar pelos encantos do rio e suas pontes.

♥ Boa viagem ♥